História do besouro mangangá
Ao contrário do que a maioria das
pessoas pensa o homem apelidado de besouro mangangá, realmente existiu.
Infelizmente muito pouco se sabe sobre essa figura envolta em lendas e
mistérios que permanecem desde seu nascimento até a sua morte e que os mais
velhos ainda lembram em suas histórias.
Nascido em 1897 em Santo Amaro da
Purificação, na Bahia, filho dos ex-escravos João Grosso e Maria Aifa, Manuel
Henrique Pereira (seu nome de batismo), teve toda sua vida permeada por muito
misticismo. Não se sabe quando, mas iniciou seus primeiros passos na capoeira
com Mestre Alípio, também ex-escravo, mais precisamente na Rua do Trapiche de
Baixo. Diziam que besouro era um negro alto e muito forte e na capoeira possuía
uma agilidade sem igual. O que provavelmente fez com que recebesse o apelido de
”besouro”, ou “besouro mangangá" (gênero de besouro venenoso).
Outros dizem que seu apelido se deve
ao fato de uma vez tendo armado uma confusão, e vendo-se cercado de policiais,
besouro simplesmente “sumiu”. Um policial atordoado com a cena, disse para o
parceiro: “Você viu pra onde foi aquele negro? E o outro respondeu: “Vi sim.
Ele virou um besouro e saiu voando”. Era exímio jogador de capoeira, assim como
no manejo do facão e da navalha. Incluindo o jogo de “santa-maria”. Jogo
violento onde os capoeiristas jogavam com uma navalha presa aos pés.
Esses são somente alguns dos “causos”
contados sobre a figura baiana.
Muitos também afirmam ter algum
parentesco com o capoeirista, mas somente um tem isso comprovado. Rafael Alves
França, (1917 – 1983) também conhecido como Mestre Cobrinha Verde, era seu
primo legítimo. Iniciado na capoeira com seu primo aos 4 anos de idade, sob uma
única condição: Nunca ganhar dinheiro com a capoeira. Promessa que foi mantida
durante sua vida inteira.
Muitas são as lendas que permeiam a
vida de besouro. Diziam que quando acontecia alguma confusão, o capoeirista se
transformava num besouro e saia voando, ou então se transformava simplesmente
num toco de pau. Diziam também que tinha o corpo fechado, que possuía poderes
mágicos e que sabia orações milagrosas.
Apesar da sua fama de valentão -
nunca se deu bem com a polícia - os mais antigos contam que besouro, não suportava
injustiças, era um defensor do povo pobre e fazia justiça com as próprias mãos.
Sempre que via alguma coisa desse tipo, ele se metia e defendia o oprimido.
Seguem então aqui algumas historias que os antigos da Bahia ainda contam.
Soldado do exército
Besouro teria servido ao exército em
determinada época de sua vida. Certo dia viu entre os objetos confiscados pelo
exército um berimbau, pois a capoeira ainda era proibida naquela época.
Besouro, que já era iniciado na capoeira, tentou com sua patente de soldado,
resgatar o instrumento, mas não teve êxito, pois seu superior alegou que aquilo
era uma ferramenta de vagabundos e vadios e que um soldado nada tinha que ver
com o instrumento. O resultado foi uma briga entre besouro e seu superior que
precisou de vários outros soldados para prender besouro e deixá-lo em
observação. Depois disso besouro foi expulso do exército e passou a trabalhar
nas fazendas do recôncavo baiano.
Presente de amigo
Era costume besouro presentear seus
amigos mais chegados com penas de pavão arrancadas dos chapéus dos valentões do
recôncavo baiano
Hoje é feriado
Diziam que besouro era tão respeitado
que às vezes chegando à cidade, mandava que os comerciantes fechassem as
portas, pois “ele” havia decretado feriado. E ai de quem não obedecesse.
A barraca de amendoim
Certo dia passeando no mercado,
besouro resolve experimentar um amendoim em uma das barracas, mas recebeu do
comerciante, um tapa na mão e ainda falou que estaria proibido de pegar os
amendoins. Besouro então disse para o comerciante:
- Você não sabe com quem está
falando.
Então besouro virou para os clientes
do mercado e simplesmente convidou a todos para se servirem dos amendoins do
comerciante. Sabendo então de que se tratava do temido besouro mangangá, o
comerciante ficou assistindo aos clientes comerem toda sua mercadoria. Quando
acabaram os amendoins, besouro perguntou quanto devia e pagou para o
comerciante.
Quebrou para São Caetano
Uma história contada pelo primo
Mestre Cobrinha Verde era a de que uma vez besouro conseguiu emprego em uma
usina em Santo Amaro, onde o patrão tinha fama de não pagar aos funcionários.
Diziam que quando era chegado o dia do pagamento o patrão simplesmente dizia
que o salário “quebrou pra São Caetano”. Essa era uma expressão usada na região
que significava que não haveria salário. Além do mais dizia que quem
contestasse o patrão era surrado e amarrado a uma árvore até o final do dia.
Besouro já tendo tomado conhecimento disso, ficou esperando sua vez de receber.
Quando foi chamado, o patrão disse a frase: seu salário “quebrou pra São
Caetano”. Mas acontece que ele não estava falando com qualquer um. Besouro
pegou o patrão pelo cavanhaque e disse “Pague o dinheiro de Besouro Cordão de
Ouro. Paga ou não paga?” O patrão morrendo de medo pagou besouro que pegou o
dinheiro e foi embora.
No pé da cruz
Certa vez besouro, depois de tomar
sua arma, obrigou o soldado a beber uma grande quantidade de cachaça no Largo
da Santa Cruz, um dos principais de Santo Amaro. O soldado, depois disso se
dirigiu até a delegacia e comunicou o ocorrido ao seu superior, o cabo José
Costa, que decidiu mobilizar dez homens para capturar besouro morto ou vivo.
Besouro vendo os soldados chegando, saiu do bar e se encostou a uma cruz que
havia no largo e com os braços abertos disse que não se entregava. Então
os soldados abriram fogo e só pararam quando besouro estava caído no chão. Cabo
José Costa chegou perto do corpo e deduziu que estava morto, quando de repente,
besouro se levantou, tomou sua arma e ordenou que levantasse as mãos, depois
mandou que os outros soldados fizessem o mesmo e mandou que todos fossem embora
e cantou os seguintes versos:
Lá atiraram na cruz/ eu de mim não
sei/ se acaso fui eu mesmo/ ela mesmo me perdoe/ Besouro caiu no chão fez que
estava deitado/ A polícia/ ele atirou no soldado/ vão brigar com caranguejos/
que é bicho que não tem sangue/ Polícia se briga/ vamos prá dentro do
mangue.
A estranha morte de besouro
Muitas também são as histórias sobre
a sua morte, mas uma delas é até hoje cantada em todas as rodas de capoeira.
Besouro havia conseguido trabalho
como vaqueiro na fazenda do Dr. Zeca, fazendeiro da região. Dr. Zeca tinha um
filho, cujo apelido era Memeu, que tinha fama de valentão e certa vez besouro
teve uma discussão com o filho de fazendeiro e acabou batendo nele. Temendo
pela vida do filho, Dr. Zeca procurou logo acabar com besouro. Para isso,
mandou que besouro fosse trabalhar em outra de suas fazendas. Mais precisamente
na fazenda de Maracangalha. Mas primeiro entregou uma carta a besouro que
deveria ser entregue por ele ao administrador da fazenda. Mal sabia ele que
aquela carta era a sua sentença de morte. A carta mandava simplesmente que o
portador fosse morto por ali mesmo. Besouro, que era analfabeto, nada sabia
sobre o conteúdo da carta achando se tratar de uma simples recomendação. Quando
o administrador recebeu a carta, mandou que besouro esperasse até o dia
seguinte para saber a resposta e que esperasse ali mesmo na fazenda. Assim no dia
seguinte, besouro ao se apresentar foi cercado por quarenta homens, que abriram
fogo contra ele mas as balas nada fizeram. Então um homem conhecido como
Eusébio da Quibaca, provavelmente conhecedor das “mandingas”, atacou besouro
pelas costas com uma faca de “tucum”, faca feita da madeira de uma árvore que
dizem ter poderes mágicos e que era a única coisa capaz de ferir um homem de
corpo fechado. Besouro morreu jovem aos 27 anos de idade, no dia 8 de julho de
1924, mas deixou um legado vivo até hoje. Contam ainda que besouro mesmo ferido
conseguiu fugir de canoa e chegar até a Santa Casa de Misericórdia em Santo
Amaro, mas devido ao ferimento não resistiu. E o mais incrível. Consta um
documento nos autos do processo (PEREIRA 1920 –1927: 21) movido por Caetano
José Diogo contra Manoel Henrique dizendo:
Besouro é Manoel Henrique Pereira -
vaqueiro, mulato escuro, natural de Urupy, residente na usina de Maracangalha;
dava entrada na Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro da Purificação –
Bahia, com um ferimento perfuro-inciso do abdômen. Veio a falecer no dia 8 de
julho de 1924 às 7 horas da noite, conforme registro na folha 42 v. do livro n°
3, linha 16, leito 418, de entrada e saída de doentes.
eu vir o filme hoje na aula de educação física e não fala tudo isso .....
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